O mundo está girando meu chapa. E em uma velocidade enorme, assustadora, nos colocando no canto da parede e perguntando "E aí? Vai encarar?".
Tá na hora de arregaçar as mangas.
domingo, 17 de julho de 2011
terça-feira, 5 de julho de 2011
Aprenda com o Chico
Chico é Buarque, e também paratodos. Por isso, sabe que rir é o melhor remédio. Remédio contra comentários maldosos, contra a raiva, contra a internet. Hahaha, valeu Chico!
Video do dia: Comentários na Internet from Chico Buarque: Bastidores on Vimeo.
sábado, 2 de julho de 2011
O que um sapateiro pode fazer?
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXpCLv7owmMTCX-9sDu4nXdQP5vfE3wsb0sFdmEtSXU7Y7Yuxs8MoJCi8nyAmeOceAH3gLkY-ytfq3hqrEHPNu37XP6gh09u3LHtGy3_p__wFtmas2ZbcK7q0wUFjUDLj9k-QB3ytUKCma/s400/Sapateiro.png)
Mas se eu dissesse para você que um sapateiro foi capaz de descobrir uma das três variedades de eucalipto em um país distante? Que esse sapateiro foi capaz de introduzir o sistema Linnaen de jardinagem nesse mesmo país? Você não acreditaria que esse sapateiro publicou os primeiros livros de ciências e história natural no país que estava vivendo?
Se eu dissesse que um sapateiro foi o primeiro a levar o motor à vapor para um país distante, o primeiro a fabricar no país o papel para a indústria de publicações desse país?
Imagina um sapateiro introduzindo a ideia de instituições bancárias de crédito para combater o mal social da agiotagem? Imagina ele sendo o primeiro homem que liderou uma campanha de tratamento mais humano para leprosos?
Para quem gosta de tecnologia gráfica como eu admiraria esse sapateiro. Ele também trouxe a ciência moderna de gráfica e publicações e depois ensinou e desenvolveu a mesma. Ele montou o primeiro jornal a ser impresso em uma língua oriental.
O que dizer quando se vê um sapateiro como fundador da Sociedade de Agri-horticultura, na década de 1820, trinta anos antes de ser fundada a Sociedade Real de Agricultura da Inglaterra? Dá para acreditar que esse sapateiro foi um dos defensores da reforma agrícola nesse país distante?
Além disso, esse sapateiro traduziu e publicou grandes clássicos religiosos desse país onde ele morava, além de tratados filosóficos. Transformou o Bengali na principal linguagem literária desse país (antes essa língua era considerada digna "dos demônios e das mulheres"). Escreveu músicas cristãs nessa língua.
Dá para acreditar que esse sapateiro se tornou professor de Bengali, sânscrito e Marathi na faculdade Fort William, em Calcutá? Dá para crer que ele formava funcionários públicos? Sem falar nas dezenas de escolas para crianças que ele fundou. Esse sapateiro até criou a primeira faculdade da Ásia em Serampode (perto de Calcutá). Acreditas?
Como um bom professor que esse sapateiro era, introduziu também o estudo da astronomia no subcontinente. Ele acreditava e fazia os outros acreditarem que os astros precisavam ser estudados pois são obras do Criador. O mesmo lhes determinou serem "sinais e marcadores".
Uma aluna de pós-graduação em biblioteconomia poderia dizer que esse sapateiro foi o primeiro bibliotecasrede no subcontinente. Trouxe, com ajuda de amigos, muitos livros educativos pois desejava também uma "libertação" intelectual do povo. "Ele queria tornar acessível à nós a informação global, através das bibliotecas-rede", diria essa estudante.
Um sapateiro que queria um mundo sustentável. Seria isso possível? Sim, ele queria. Tornou-se o primeiro homem nesse país distante a escrever ensaios sobre o reflorestamento, quase 50 anos antes da primeira tentativa do governo de conservação ambiental. Esse sapateiro praticou e defendeu o cultivo de madeira, dando conselhos práticos sobre como plantar árvores para o progresso ambiental, agrícola e comercial.
As mulheres de sua época podem dizer que ele foi o primeiro homem (sapateiro) que se opôs aos assassinatos inescrupulosos e à opressão das mulheres em geral. Enquanto muitos tratavam essas coisas como "cultura", esse sapateiro se levantou e realizou pesquisas sistemáticas de sociologia e também da Bíblia. Publicou esses relatórios para mover a opinião pública e levantar protestos, tanto em Bengal como também na Inglaterra. O resultado dessa luta de 25 anos foi a publicação do famoso edito de Lord Bentinck, em 1829, banindo uma das práticas religiosas mais abomináveis, como "a queima das viúvas".
Esse sapateiro, a princípio, não teve permissão de ingressar na parte inglesa desse país (ele era um sapateiro inglês) porque a grande empresa que trabalhava lá era contra o proselitismo de hindus. Portanto, foi para a "área dinamarquesa" em Serampore. Mas quando a companhia não encontrou um professor de bengali qualificado, chamou o sapateiro qualificado para o serviço. Assim, sendo "sapateiro-professor" na universidade durante os 30 anos que lecionou, conseguiu transformar a essência da administração britânica de exploração imperial indiferente em serviço civil.
Um aluno de filosofia indiana pode dizer que esse sapateiro restaurou a idéia de que a ética e a moralidade são inseparáveis da religião, já que o pressuposto básico da religião védica ensinava a separação entre a ética e a espiritualidade. Já um outro aluno, dessa vez um aluno de história, pode dizer que esse sapateiro foi o pai da renascença indiana nos séculos XIX e XX. "A índia hindu atingiu o seu ápice intelectual, nas artes, arquitetura e literatura no século XI d.C", ressaltaria esse aluno de história.
Esse sapateiro não viu a Índia como um país a ser explorado, mas como um lugar especial, que deveria ser amado, servido e onde a verdade, e não a ignorância, precisava reinar. Esse sapateiro enfatizou o desfrutar da literatura e da cultura, em vez de refutá-la como algo maya. Sua espiritualidade prática, com forte ênfase em justiça e amor ao próximo, amor à Deus, marcou a mudança de rumo da cultura indiana. Os primeiros líderes indianos da renascença procuraram inspiração nesse sapateiro e nos amigos que viveram com ele.
Bom, o que um sapateiro pode fazer?
Será que ele tinha o apoio incondicional da rainha da Inglaterra? Estaria ele em convênio com o Greenpeace? Talvez ele tivesse vários advogados ao seu dispôr no exterior. "A ONU, com certeza, o enviou para começar essas reformas", alguém poderia dizer. Com certeza esse sapateiro tinha um iPAD, conectado 24 horas à rede 3G indiana e, com isso, pode se mover e fazer as muitas pesquisas que realizou, tudo financiado pelo Google. Ele deve ter escrito bastante no Wikipedia e deve ter sido convidado para ser um palestrante no TED. Talvez tenha ganhado um Nobel. Mas uma coisa deve ter sido verdade: teve ele o apoio incondicional de sua igreja e de sua denominação?
Pois bem, o que um sapateiro pode fazer mesmo, hein?
(Baseado no artigo Carey: Christ and Cultural Transformation, escrito por Ruth e Vishal Mangalwadi, Copyright 1993, com alguns acréscimos meus)
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