domingo, 17 de julho de 2011

Não se Gondinize

O mundo está girando meu chapa. E em uma velocidade enorme, assustadora, nos colocando no canto da parede e perguntando "E aí? Vai encarar?".

Tá na hora de arregaçar as mangas.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Aprenda com o Chico

Chico é Buarque, e também paratodos. Por isso, sabe que rir é o melhor remédio. Remédio contra comentários maldosos, contra a raiva, contra a internet. Hahaha, valeu Chico!

Video do dia: Comentários na Internet from Chico Buarque: Bastidores on Vimeo.

sábado, 2 de julho de 2011

O que um sapateiro pode fazer?

Essa pergunta, a primeira vista, não tem outra resposta. Afinal de contas, não é o sapateiro um profissional que conserta e fabrica sapatos? Sim, é verdade. Ele trabalha na área de calçados, cuja materia-prima em sua grande maioria é o couro. Também trabalha com vários acessórios atualmente. Não sei quanto a você mas eu não me lembro de ter tido contato com um sapateiro na minha vida. Não me lembro de ter precisado seus serviços. O que o sapateiro pode oferecer, todos nós sabemos.

Mas se eu dissesse para você que um sapateiro foi capaz de descobrir uma das três variedades de eucalipto em um país distante? Que esse sapateiro foi capaz de introduzir o sistema Linnaen de jardinagem nesse mesmo país? Você não acreditaria que esse sapateiro publicou os primeiros livros de ciências e história natural no país que estava vivendo?

Se eu dissesse que um sapateiro foi o primeiro a levar o motor à vapor para um país distante, o primeiro a fabricar no país o papel para a indústria de publicações desse país?

Imagina um sapateiro introduzindo a ideia de instituições bancárias de crédito para combater o mal social da agiotagem? Imagina ele sendo o primeiro homem que liderou uma campanha de tratamento mais humano para leprosos?

Para quem gosta de tecnologia gráfica como eu admiraria esse sapateiro. Ele também trouxe a ciência moderna de gráfica e publicações e depois ensinou e desenvolveu a mesma. Ele montou o primeiro jornal a ser impresso em uma língua oriental.

O que dizer quando se vê um sapateiro como fundador da Sociedade de Agri-horticultura, na década de 1820, trinta anos antes de ser fundada a Sociedade Real de Agricultura da Inglaterra? Dá para acreditar que esse sapateiro foi um dos defensores da reforma agrícola nesse país distante?

Além disso, esse sapateiro traduziu e publicou grandes clássicos religiosos desse país onde ele morava, além de tratados filosóficos. Transformou o Bengali na principal linguagem literária desse país (antes essa língua era considerada digna "dos demônios e das mulheres"). Escreveu músicas cristãs nessa língua.

Dá para acreditar que esse sapateiro se tornou professor de Bengali, sânscrito e Marathi na faculdade Fort William, em Calcutá? Dá para crer que ele formava funcionários públicos? Sem falar nas dezenas de escolas para crianças que ele fundou. Esse sapateiro até criou a primeira faculdade da Ásia em Serampode (perto de Calcutá). Acreditas?

Como um bom professor que esse sapateiro era, introduziu também o estudo da astronomia no subcontinente. Ele acreditava e fazia os outros acreditarem que os astros precisavam ser estudados pois são obras do Criador. O mesmo lhes determinou serem "sinais e marcadores".

Uma aluna de pós-graduação em biblioteconomia poderia dizer que esse sapateiro foi o primeiro bibliotecasrede no subcontinente. Trouxe, com ajuda de amigos, muitos livros educativos pois desejava também uma "libertação" intelectual do povo. "Ele queria tornar acessível à nós a informação global, através das bibliotecas-rede", diria essa estudante.

Um sapateiro que queria um mundo sustentável. Seria isso possível? Sim, ele queria. Tornou-se o primeiro homem nesse país distante a escrever ensaios sobre o reflorestamento, quase 50 anos antes da primeira tentativa do governo de conservação ambiental. Esse sapateiro praticou e defendeu o cultivo de madeira, dando conselhos práticos sobre como plantar árvores para o progresso ambiental, agrícola e comercial.

As mulheres de sua época podem dizer que ele foi o primeiro homem (sapateiro) que se opôs aos assassinatos inescrupulosos e à opressão das mulheres em geral. Enquanto muitos tratavam essas coisas como "cultura", esse sapateiro se levantou e realizou pesquisas sistemáticas de sociologia e também da Bíblia. Publicou esses relatórios para mover a opinião pública e levantar protestos, tanto em Bengal como também na Inglaterra. O resultado dessa luta de 25 anos foi a publicação do famoso edito de Lord Bentinck, em 1829, banindo uma das práticas religiosas mais abomináveis, como "a queima das viúvas".

Esse sapateiro, a princípio, não teve permissão de ingressar na parte inglesa desse país (ele era um sapateiro inglês) porque a grande empresa que trabalhava lá era contra o proselitismo de hindus. Portanto, foi para a "área dinamarquesa" em Serampore. Mas quando a companhia não encontrou um professor de bengali qualificado, chamou o sapateiro qualificado para o serviço. Assim, sendo "sapateiro-professor" na universidade durante os 30 anos que lecionou, conseguiu transformar a essência da administração britânica de exploração imperial indiferente em serviço civil.

Um aluno de filosofia indiana pode dizer que esse sapateiro restaurou a idéia de que a ética e a moralidade são inseparáveis da religião, já que o pressuposto básico da religião védica ensinava a separação entre a ética e a espiritualidade. Já um outro aluno, dessa vez um aluno de história, pode dizer que esse sapateiro foi o pai da renascença indiana nos séculos XIX e XX. "A índia hindu atingiu o seu ápice intelectual, nas artes, arquitetura e literatura no século XI d.C", ressaltaria esse aluno de história.

Esse sapateiro não viu a Índia como um país a ser explorado, mas como um lugar especial, que deveria ser amado, servido e onde a verdade, e não a ignorância, precisava reinar. Esse sapateiro enfatizou o desfrutar da literatura e da cultura, em vez de refutá-la como algo maya. Sua espiritualidade prática, com forte ênfase em justiça e amor ao próximo, amor à Deus, marcou a mudança de rumo da cultura indiana. Os primeiros líderes indianos da renascença procuraram inspiração nesse sapateiro e nos amigos que viveram com ele.

Bom, o que um sapateiro pode fazer?

Será que ele tinha o apoio incondicional da rainha da Inglaterra? Estaria ele em convênio com o Greenpeace? Talvez ele tivesse vários advogados ao seu dispôr no exterior. "A ONU, com certeza, o enviou para começar essas reformas", alguém poderia dizer. Com certeza esse sapateiro tinha um iPAD, conectado 24 horas à rede 3G indiana e, com isso, pode se mover e fazer as muitas pesquisas que realizou, tudo financiado pelo Google. Ele deve ter escrito bastante no Wikipedia e deve ter sido convidado para ser um palestrante no TED. Talvez tenha ganhado um Nobel. Mas uma coisa deve ter sido verdade: teve ele o apoio incondicional de sua igreja e de sua denominação?

Pois bem, o que um sapateiro pode fazer mesmo, hein?

(Baseado no artigo Carey: Christ and Cultural Transformation, escrito por Ruth e Vishal Mangalwadi, Copyright 1993, com alguns acréscimos meus)