domingo, 18 de março de 2012

Maximização versus Otimização

Há uma ética subjacente à cultura produtivista e consumista, hoje vastamente em crise por causa da pegada ecológica do planeta Terra, cujos limites foram ultrapassados em 30%. Nunca mais vamos ter a abundância de bens e serviços como até há pouco tempo dispúnhamos. A Terra precisa de um ano e meio para repor o que lhe extraímos durante um ano. E não parece que a fúria consumista esteja diminuindo. Pelo contrário, o sistema vigente para salvar-se, incentiva mais e mais o consumo que, por sua vez, requer mais e mais produção que acaba estressando ainda mais todos os ecossistemas e o planeta como um todo.



A ética que preside a este modo de viver é a da maximização de tudo o que fazemos: maximizar a construção de fábricas, de estradas, de carros, de combustíveis, de computadores, de celulares; maximizar programas de entretenimento, novelas, cursos, reciclagens, produção intelectual e científica. A roda da produção não pode parar, caso contrário ocorre um colapso no consumo e nos empregos. No fundo, é sempre mais do mesmo e sem o sentido dos limites suportáveis pela natureza.

Imitando Nietzsche perguntamos: quanto de maximização aguenta o estômago físico e espiritual humano? Chega-se a um ponto de saturação e o efeito direto é o vazio existencial. Descobre-se que a felicidade humana não está em maximizar, nem engordar a conta bancária, nem o número dos bens na cesta de produtos consumíveis. O fato é que o ser humano possui outras fomes: de comunicação, de solidariedade, de amor, de transcendência, entre outras. Estas, por sua natureza, são insaciáveis, pois podem crescer e se diversificar indefinidamente. Nelas se esconde o segredo da felicidade. Mas nas palavras do filósofo Ludwig Wittgenstein citando Santo Agostinho:“tivemos que construir caminhos tormentosos pelos quais fomos obrigados a caminhar com multiplicadas canseiras e sofrimentos, impostos aos filhos e filhas de Adão e Eva” para chegar a esta tão buscada felicidade.

Logicamente precisamos de certa quantidade de alimentos para sustentar a vida. Mas alimentos excessivos, maximizados, causam obesidade e doenças. Os países ricos maximizaram de tal maneira a oferta de meios de vida e a infra-estrutura meterial que dizimaram suas florestas (a Europa só possui 0,1% de suas florestas originais), destruíram ecossistemas e grande parte da biodiversidade, além de gestar perversas desigualdades entre ricos e pobres.

Devemos caminhar na direção de uma ética diferente, a da otimização. Ela se funda numa concepção sistêmica da natureza e da vida. Todos os sistemas vivos procuram otimizar as relações que sustentam a vida. O sistema busca um equilíbrio dinâmico, aproveitando todos os ingredientes da natureza, sem produzir lixo, otimizando a qualidade e inserindo a todos. Na esfera humana, esta otimização pressupõe o sentido de auto-limitação e a busca da justa medida. A base material sóbria e decente possibilita o desenvolvimento de algo não material que são os bens do espírito, como a solidariedade para com os mais vulneráveis, a compaixão, o amor que desfaz os mecanismos de agressividade, supera os preceitos e não permite que as diferenças sejam tratadas como desigualdades.

Talvez a crise atual do capital material, sempre limitado, nos enseje viver a partir do capital humano e espiritual, sempre ilimitado e aberto a novas expressões. Ele nos possibilita ter experiências espirituais de celebração do mistério da existência e de gratidão pelo nosso lugar no conjunto dos seres. Com isso maximizamos nossas potencialidades latentes, aquelas que guardam o segredo da plenitude, tão ansiada.

Leonardo Boff é autor de Tempo de Transcendência: o ser humano como projeto infinito.


Extraído: http://leonardoboff.wordpress.com


sábado, 10 de março de 2012

Persevere

Semana passada estava dentro de um ônibus admirando a linda paisagem ao meu redor. Até aí, nada de anormal. O anormal aconteceu quando o ônibus ultrapassou um caminhão.

Quando eu era criança, meu pai queria que eu fosse engenheiro. Já minha mãe, pastor. E eu sonhava em ser "motorista de caminhão". Sonhos de quem me ama muito, anelando ver em mim a realização. Pois bem, ao ficar olhando o caminhão e quem o dirigia, decidi colocar em minha lista das Coisas Que Farei Antes de Subir que um dia vou dirigir um caminhão.

Não sou engenheiro, não sou pastor, muito menos caminhoneiro.

Sou um sonho em carne e osso. Meu único título é amigo. Sou um "tesouro bem guardado" que vai se enriquecendo (realizando) a medida que ultrapasso o que fica para trás, dia após dia, no cotidiano dessa vida que gentilmente recebí do céu à alguns anos atrás. Os sonhos de quem me ama foram se aprimorando no decorrer da estrada. Sou alguém que precisa olhar para a vara, escutar o Vento que vem do céu. Isso tudo em meio à um andar que, com certeza, não é tão constante como eu gostaria que fosse. As vezes esqueço que tenho tração nas quatro rodas...

Miserável homem que sou.

Mas tudo bem rapaz, fica tranquilo: Basta buzinar.

Basta perseverar.