segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dá para subir o morro ou não?

Faz um pouco mais de uma semana que temos acompanhado notícias que mexem com todos nós. Para um carioca como eu, é triste ver que mais uma vez o descontrole se torna nosso principal turista. Existem muitas razões para o fato, é possível escrever uma lista de razões mas não irei fazer isso. Não agora.

É uma pena que o tráfico chega primeiro que nós. Uma pena que a polícia chega em segundo.

Por quê uma pena?

Porque nós temos muito a oferecer, mas agimos como se não tivêssemos nada. Agimos como pobres coitados, cercados com muros enormes e portas trancadas a sete chaves. Nos enfiamos no condomínio do preconceito e ainda por cima levantamos nossas mãos aos céus. Uma ignorância, não é verdade? Ou, no mínimo, ficamos "sobrevoando" de longe em nosso "céu, lindo céu", olhando traficantes e pessoas fugindo. Vamos, em nome de Jesus, sair do helicóptero...


Imagine agora mesmo a igreja onde você congrega. Você se lembra do "João" e da "Maria", um pediatra e uma psicóloga, respectivamente? Se lembra também daquele adolescente que organiza jogos de futebol com outras igrejas? E aquele rapaz novo que chegou, que é TI em uma empresa privada?

O que tem em sua igreja?

Posso te garantir que somos um poço de talentos. Me desculpe o trocadilho das letras (risos), mas é a pura verdade. Me entristece saber que o Rio possui o segundo (ou terceiro) maior número de evangélicos do país. De que adianta o grande número se o sal não sai do saleiro? A Penha que o diga!

Nossas igrejas estão abarrotadas de pessoas capazes, com dons e talentos, com profissões que poderiam mudar a imagem das nossas favelas, de nossos morros, de nossos bairros. Pessoas bem perto de nós, as vezes vizinhos, só esperando que saiámos de nossos cultos para que possamos cultuar o Deus de Amor junto a eles. E quando falo "cultuar", falo muito mais do que levar uma caixa de som, microfones e violões. Falo de ação, de serviço, falo de ministério.

Ministério que não serve, não é ministério. É o que chamo de "pirâmide de Faraó". Isso mesmo, é no máximo um túmulo sultuoso (sempre à mostra) para pessoas grandes, "faraós". Pensam que são imortais lá dentro, mas não passam de trapos. Por causa disso, não saem das pirâmides. Ficam lá, presos, como "reis do passado".

Você já parou para imaginar se subíssemos o morro? Já parou para imaginar se fossemos lá para cima para servir essa gente tão carismática, tão criativa, tão lutadora? Já parou para imaginar se tivêssemos uma creche para as crianças com acompanhamento psicológico às famílias, facilitando as vidas das muitas mães que lá existem? Já imaginou se tivêssemos lá um centro profissionalizante para adolescentes?

Que futuro teríamos? Posso te dizer que o Caveirão não iria aparecer nos noticiários como antes.

O pior de tudo é que só ficamos na imaginação. Olhamos para as escadas da Favela e nos assustamos, ou pior: fazemos só vigílias de oração. Como seria fácil se Gabriel e Miguel pudessem descer lá no Complexo do Alemão, não é mesmo? Que é bom interceder, eu estou de pleno acordo mas plenamente contra as muitas palavras já sabendo o que precisa ser feito.

Esqueceu o que Deus falou para Moisés? "Pára de orar rapaz! Vai, anda!" (Êxodo 14:15).

O Complexo do Alemão é realmente complexo. Segundo estatísticas, possui um dos piores indicadores sociais do Rio. Dos 158 bairros, esta região ocupa a 149 posição no IDS (Índice do Desenvolvimento Social) da cidade. Chegaram a esses números depois de avaliarem o saneamento básico, qualidade habitacional, grau de escolaridade e a renda da população carioca. De acordo com o já defazado Censo de 2000, existem(iam) alí cerca de 65.026 pessoas, em 18.245 domicílios, em um complexo formado por 14 favelas. Juventude fora da escola, mães precoces e sem renda alguma. Violência? "Fála sério doutor", tem muita, assim como em todo lugar onde não é assistido de forma digna. Resumo: o Complexo do Alemão nada mais é do que um palco enorme onde podemos - enfim - nos apresentar.

Não precisa subir o morro para ver confusão, basta olhar para o lado (ou para dentro). Você pode ver um rapaz que não devolve o troco de ônibus quando o trocador lhe dá dinheiro a mais. Pode ver uma mulher que aceita uma nota fiscal com um valor maior do que o verdadeiro. Verá pessoas que não declaram imposto de renda por dizerem que não darão dinheiro para um governo que não faz nada.

Ora bolas, e nós fazemos?

Somos muitas vezes tão corruptos quanto aquele PM que vomita no juramento que fez, corrompendo-se. Ser ou não ser, eis a questão.

A hora da gente subir o morro já passou. O sangue derramado já caiu em nossas mãos, você pode ter certeza absoluta disso. Não precisa ser profeta não, basta não ser analfabeto e ler a bíblia como deve ser lida.

Dá uma olhadinha na foto abaixo. É um convite para mim, para você, para a sua igreja. Sim, é um convite. Ele te provoca, te chama "para a guerra", te clama para um encontro:


Pois é mermão, o cara lá de cima tá nos chamando. Falo desse carinha com AR15 na mão, nos chama para um confronto, para saber qual é a tua, nos desafiar a ser o que incansavelmente cantamos todos os domingos.

Vai subir ou não?

Se você não subir, "pede para sair". É vero, pede mesmo. "Já perdeu", como os assaltantes de carro falam em Ipanema. Não tens mais nada para fazer aqui na terra.

Não se preocupe comigo, falo desse jeito porque eu sei o que estou falando (Aliás, não falo do que não sei). Já subí o morro antes, já cantei lá em cima, já joguei futebol lá, já sentei na escada com eles. Já ví um rapaz ser assassinado com cerca de 10 tiros a menos de 20 metros de mim. Já fiquei entre os traficantes e a PM. Já apertei a mão de um assassino.

Nada que eu não me arrependa. "Grata memória"!

E aí? Dá para subir o morro ou não?

sábado, 27 de novembro de 2010

O que o deserto pode nos dizer?

Um dos melhores filmes que já assistí se chama "As Quatro Plumas" (The four Feathers) de Shekhar Kapur. Aconselho a todos verem, pois é muito mais que entreterimento. Coloco aqui algumas observações que ele fez, importantíssimas para todos nós:

O Mistério do deserto

Você não imagina o que o deserto faz com você. Na primeira vez me perguntei o que seria estar só no deserto. Verdadeiramente perdido. Fui à uma parte plana e pedí para a equipe que me deixasse lá.
- Vão, deixem-me perdido um tempo. Depois venham me buscar.
Eles andaram vários quilômetros, mas eu ainda podia vê-los. Eles me ligaram perguntando se eu estava bem, e eu desliguei o celular.
- Não quero ver vocês, por favor, vão embora.
Somente Bob Richardson entendeu o que eu estava tentando fazer. Ele forçou todo mundo e disse: Sei o que pretende, entender o que é etar no deserto. entender do que trata o filme.

Eles se foram e eu não ví nada, não ouví nada. Depois de algum tempo eu só ouvia o som da minha respiração. E, se eu andasse, o ruído da areia sob os meus pés. Nenhum barulho, olhei em volta, e não havia nada. De repente, entendí o que o deserto faz.

Se você superar o medo de estar perdido, sua mente se liberta porque não há nenhuma percepção sensorial externa. Tudo isso é removido, e o interior ganha vida. Você não tem escolha, a não ser ouvir o interior. Nesse dia percebí que seria um filme sobre si mesmo, estar no deserto força você a refletir sobre si mesmo. Força você a isso. Foi o que o deserto fez conosco, com cada um de nós.

Começamos o filme com imagens do império britânico, de pedras, estruturado. No controle. Terminamos o filme com aquela última luta no deserto e decidí fazer o deserto parecer água, fazer as dunas parecerem água. Portanto, a última luta com o último demônio dele foi filmada com velocidade acelerada. Pedi aos atores que deliberadamente chutasse o máximo de areia possível para parecer água espirrando. A ponto de, numa tomada, o antogonista tenta matar Harry afogando-o na areia. Gravei como que tentasse afogar alguém na água. São vários aspectos do design do filme, que permeiam bem de perto a trabalho da câmera, resultam da filosofia básica do filme. Tudo que acontece dita uma aventura e dita a forma cinemática do filme.

Na verdade, você não controla o ambiente. Você descobre que o deserto gradualmente controla você e lhe diz como fazer o filme. Shekhar Kapur

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Unção do Choro

A "Unção do Choro" já existe em muito tempo. Não nasceu no Canadá, muito menos no Brasil. Ela já existe desde que o homem é homem pó, quando ouve o primeiro sacrifício. Só que, nos tempos atuais, o tal "unção" foi diminuido até entrar na lista "de extinção". Desculpe as linhas mas "unção do choro", nada mais é do que arrependimento, humilhar-se diante d'Aquele que É, voltar-se humildemente para Ele.

Um grande homem chorou à um tempo atrás e, quando ví o vídeo, chorei também. Espero que você também chore, que os seus também.

Que nossas lágrimas juntas possam regar nossa indignação, fazendo-nos realmente manifistar o Reino. Veja e chore, por favor...