sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quando um maluco aparece

Me lembro de uma vez onde vi um assassinato, à cerca de 10 metros de mim: Um rapaz dando 10 tiros em um outro. A cena foi tão chocante que eu me paralisei. Enquanto todos se jogavam no chão, meus amigos gritando para eu se jogar por terra e se proteger das balas, eu ficara em pé olhando um homem (como eu) matar um outro (como eu).

Eu só fui ver o sangue mesmo quando a dona da casa veio com uma mangueira para limpar o chão. Chão esse já "limpado" pelo traficante que, assim que terminou os cerca de 10 tiros, já gritou pedindo por uma Kombi. Ela veio rápido, jogaram o corpo dentro e desapareceu.

O cena foi chocante. Foi chocante porque custava a acreditar em ver alguém brincando de ser Deus. Eu não olhei para o corpo, não chorei (nem uma lágrima sequer), nem fiquei pensando na família do morto. Meus olhos se concentraram no atirador que, com o famoso sangue frio, dizia para Deus e o mundo que ele era o "sangue bom na parada". Ele é o dono do morro, o que decide, o que é "deus", o que decide quem vive ou não. Obviamente que ele não durou 6 meses pois foi fruto da mesma arma que usou. Como diz o ditado, quem com ferro fere, com ferro será ferido.

Sim, humanos matam. Humanos se destroem. Ontem pela manhã mais um humano agiu loucamente, ao atirar em crianças dentro de uma escola da zona oeste do Rio. Mas por quê?

Meu Deus, por que esse louco pensou em fazer isso?

Será que ninguém percebeu sua loucura antes?

O Senhor não viu ele premeditando isso? Não percebeu seu plano? Não viu ele escrevendo a carta antes?

Por que ele idealizou isso? O Senhor já sabia que isso ia acontecer, por quê não "agiu"?

Por quê o Senhor não impediu?

Será que as crianças estavam em dívida contigo?

Será um castigo para as famílias que, poderiam estar "em pecado"?

Por quê o Senhor permitiu que isso acontecesse?

Por quê meu Deus?

As perguntas são muitas e as chamadas respostas prontas jamais irão nos saciar. Aliás, se prosseguirmos com as perguntas, um novo livro de Jó será lançado. Mas a verdade é nua e crua: existem muitos "livros de Jó no mercado". O que dizer do Joãozinho arrastado pelo carro? O que dizer do pequenina Nardoni jogada pelo pai pela janela? Sem falar nas milhares de histórias macabras que o Jornal Nacional não conseguiu (e nem conseguirá) mostrar.

São livros de Jó vivos, escritos por lágrimas, dores e perguntas.

Mês passado tive a oportunidade de ler um texto do Caio Fábio sobre sofrimento. O texto é estarrecedor e esclarecedor. É profundo, chocante e verdadeiro. É uma mãe que fala de sua filha, seu sequestro, sua esperança, de um louco, de uma morte horrível, de pais aterrorizados.

Querendo ler o que ele escreveu, basta baixá-lo aqui e deixemos Papai escrever o final desses livros de Jó que constantemente escrevemos no decorrer de nossa vida aqui na terra.

O que nos resta, como Noiva do Nazareno (que um dia também chorou) é chorar com os que choram, esperando pela "conclusão" desse livro que ninguém na terra gostaria de escrever.

Afogados em perguntas e lágrimas, vamos deixar nossos livros em Suas mãos. Aí sím, nossos olhos o verão.

Nenhum comentário: