segunda-feira, 30 de junho de 2008

U2 é cristão?

U2 e a Igreja chamada Vertigo

Uma das pessoas que incentivaram o lançamento do livro Walk On - A jornada espiritual do U2 foi o vereador Carlos Alberto Bezerra Jr.
Sua luta por uma igreja mais relevante para a sociedade e inserida culturalmente na comunidade pode ser vista através dos seus dois mandatos como vereador e na organização do Usina 21, evento que mobiliza milhares de jovens cristãos na cidade de São Paulo, em um dia de muita festa e engajamento, num encontro cujo lema é: Jovens, Idéias e Transformação Social.
Em seu mais recente texto, Junior comenta sobre o conteúdo cristão nas letras das músicas do U2. Confira a seguir a íntegra do texto:

U2 e a Igreja chamada Vertigo, por Carlos Bezerra Junior. (fonte: Site oficial do vereador)

“Hello, hello! I’m at a place called vertigo...” Foi ouvindo estes versos que eu me dei conta de onde estava: no estádio do Morumbi, assistindo ao show da banda U2, que tocava a segunda música do dia, em São Paulo. Perto de mim, o prefeito José Serra. A reação à apresentação dos roqueiros irlandeses é geralmente essa mesmo. Ficamos meio que tontos diante do cenário gigante, da performance perfeita, do carisma de Bono. Depois do show, recebi vários e-mails de irmãos questionando o conteúdo cristão das músicas do U2 e das bandeiras sustentadas pelo vocalista. Resolvi escrever o que penso.

Seriam eles cristãos? Sim, eles são. Alguns podem torcer o nariz para essa afirmação. Conheço todos os argumentos contrários de cor, e, sobre isso, penso sobre como o nosso olhar se tornou superficial nos últimos anos, ou, então, como a nossa teologia se tornou rasa. Excluímos do nosso círculo quem não segue os mesmos padrões de comportamento. Enquanto isso, o “Você também” do U2 prefere incluir.

Não sei se a maioria quer enxergar o miolo da questão, se quer tocar a alma desses artistas. Aos que desejam isso, sugiro uma leitura atenta das músicas. O U2 fala, principalmente, da loucura da vida moderna, das nossas cidades, da ausência de sentido das guerras, das conquistas, dos fracassos. Num mundo vertiginoso, eles procuram algo que os faça “sentir” –é o que diz “Vertigo”. Mas é também o que diz “I still haven’t found what I’m looking for”, na qual Bono canta a sua busca por entender o sentido da condição humana.

As cidades sem nome, onde as luzes cegam, os arranjos eletrônicos que causam estranhamento... São esses os cenários desenhados pelo U2 em seu lamento pela tristeza do mundo, que vem desde o domingo sangrento de “Sunday Bloody Sunday”. A crítica musical muitas vezes o classifica como piegas. Porém a maneira como os irlandeses se colocam no hit parade, carregados de influências que vão dos Beatles aos punks Ramones, apresentando criações originalíssimas e baladas que marcam gerações, é surpreendente. Em todas as letras, há conceitos cristãos claros, e as bandeiras –como a coexistência pacífica das religiões, e não o ecumenismo— são as mais evangélicas que conheci.

Há canções específicas em que o Evangelho é declarado de forma explícita, porém os que não são cristãos não a compreendem dessa forma. Dos primeiros CDs da banda até o consagrado “War”, as referências à fé predominam. Em “Boy”, o trabalho de estréia do U2, Bono canta em “I Will Folow” (“Eu Seguirei”): “I was on the outside when you said/ You needed me/ I was looking at myself/ I was blind, I could not see. (Eu estava por fora quando você disse. Preciso de você. Eu estava observando a mim mesmo/ Eu estava cego, não podia ver)”. Entre “Boy” e “War”, está “October”, considerado um dos trabalhos mais cristãos da banda.

Além das declarações de fé do U2, o testemunho público de Bono confirma o que ele canta. O envolvimento do vocalista no Jubileu 2000, movimento que propõe o perdão da dívida externa dos países africanos, o forçou a atrasar em um ano o lançamento do novo CD. Há 25 anos casado com a mesma mulher, Bono fala com presidentes, discursa, prega em seus shows usando o palco como púlpito. Em qualquer oportunidade, ele está chamando atenção para a pobreza e a injustiça social.

Tudo isso pode parecer novidade para nós, brasileiros, mas para irlandeses e americanos, a confissão de fé dos roqueiros do U2 é praticamente domínio público. Este fato está sendo corrigido com o lançamento de “Walk On A Jornada Espiritual do U2”, tradução do livro de Steve Stockman (W4 Editora). Neste ensaio, vemos a compilação de milhares de entrevistas de Bono Vox ao longo dos anos e descobrimos que ele mesmo parou de tocar no assunto igreja para evitar maiores transtornos pessoais e na carreira da banda. Mas há muitas outras coisas interessantes a conferir no livro.

O passado do jovem vocalista em Dublin, o tempo de escola bíblica, é um dos capítulos interessantes. Entendemos o que era o movimento evangélico daquele lugar naqueles tempos. Era o auge da guerra entre católicos e protestantes e a igreja não estava encerrada entre as quatros paredes do templo, e sim nas trincheiras. As canções não eram apenas de louvor, mas também de protesto por tamanha incoerência de ambos os lados da batalha. Quem não se lembra da cena de Sinéad O’Connor, a cantora careca de “Nothing Compares 2 U”, queimando a fotografia do Papa?

O U2 é um produto da Igreja, mas não para consumo interno. Hoje, vejo em Bono inúmeras expressões do Evangelho, e dos valores que aprendemos aos domingos (ou que deveríamos estar aprendendo), vejo a tentativa frutífera de atingir para além do gueto que criamos, para além dos muros do templo. E isso, convenhamos, assusta a qualquer um. Ao mesmo tempo revela uma coragem que a maioria dos nossos músicos maravilhosos não tem. Aqui eu escrevo sem ironia: nós, cristãos, abastecemos o setor fonográfico há anos, com músicos que, fora da igreja, ajudam a embalar multidões com boa música cantada por não-cristãos, enquanto dentro produzem canções muitas vezes repetitivas e sem criatividade, sem força para ir além do muitas vezes mesquinho e vazio mercado evangélico.

Não conheço Bono o suficiente para saber se ele é um exemplo a ser seguido, mas não posso ignorar a verdade de suas bandeiras. Quando assisto a um megashow como o que ele fez em São Paulo, considerado por muitos o maior show de rock da história do Brasil, não posso deixar de me sentir desafiado e de me identificar com a proposta desses malucos irlandeses. Como político, sempre rejeitei o gueto. Sempre me recusei a, como vereador, me restringir a ser um despachante de igreja, a viver de favores, fechado num mundinho autodenominado cristão.


Nunca entendi que Jesus pregava a salvação para aqueles que fossem “bonzinhos”. Entendi que o céu era para aqueles que acolhessem o estrangeiro, para os que desse água ao sedento, comida ao faminto. Talvez seja essa a pergunta perseguida por Bono: o que é a salvação? A julgar por algumas letras e discursos da banda, a salvação é sinônimo de humanização. A partir do momento em que nos tornamos mais humanos, mais parecidos com Jesus nos tornamos. E, acima de tudo, a salvação é para todos, não apenas para um grupo de iniciados.


Para concluir, o U2 nos ensina que o projeto de expressar os valores da Igreja para o além-muro pode dar certo, seja em canções, seja em políticas públicas. Não sei se poderia considerar heresia ouvir uma multidão como a que lotou o Morumbi cantando os versos de “40”, composição do CD “War”, na qual Bono é explícito em sua fé. Na música, ele diz: “You set my feet upon a rock. And made my footsteps firm. Many will see, many will see and hear (Você pôs meus pés sobre a rocha. E firmou os meus passos. Muitos verão, muitos verão, e ouvirão)”. Posso dar o testemunho de quem viu isso ao vivo, como eu. É emocionante. Ouvir o nome do Senhor exaltado dessa forma é de arrepiar.

CARLOS BEZERRA JR. é médico ginecologista e obstetra, pastor da Comunidade da Graça e vereador de São Paulo

9 comentários:

felipe viana disse...

Nunca vi ninguém converter em um show do U2.

Marcelo Campos disse...

Depois de ler este artigo vi q naum eh soh eu q enxergo a musica cristã Brasileira sendo inumeras vezes repetitiva e vazia....
Vejo q o nosso profissionalismo musical e nossa criatividade musical muitas vezes é vetada no cenario cristão.Axo errado, pra Deus temos de dar nosso melhor. Naum devemos nos retirngir apenas ao cristãos...a musica cristã tem de ser criada de uma maneira q atinja a todos. Jesus naum resumiu suas pregações apenas ao seus seguidores, Pelo Contrario, ele ia atras tbm de naum seguidores, pagãos, romanos. Nossa musica naum deve ser soh tocada em radios do generos ou em shows lotados de convertidos. Nossa musica tem de ser criada de uma maneira em q possa ser tocada em bocas de fumo, bares, boates, alias...em todos os lugares q hajam cativos a serem arrebanhados.
E pra discordar do colega acima, nunca vi ninguem ser convertido dentro de uma igreja sem q essa pessoa queira. Conversão é algo q vem de dentro pra fora.Jesus naum vai habitar meu coração se eu tranca-lo. è um processo, uma mensagem em um show como esse pode cair no coração como uma semente no solo, que até que vire uma arvore de de frutos, o processo de crescimento e desenvolvimento tem de ser respeitado. Mas nada contra, é apenas minha opinião.

João Carlos disse...

Felipe, graça e paz.

Com o atual 'evangelho' pregado em diversas igrejas em nosso Brasil, quantas pessoas realmente tem se convertido? Digo conversão mesmo, não modismo de 'agora sou evangélico', termo que atualmente tenho evitado?

Creio que TODOS NÓS fazemos parte do processo. Como está escrito em 1Co 3:1-7:

"E eu, irmãos não vos pude falar como a espírituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Leite vos dei por alimento, e não comida sólida, porque não a podíeis suportar; nem ainda agora podeis; porquanto ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja e contendas, não sois porventura carnais, e não estais andando segundo os homens?

Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; não sois apenas homens? Pois, que é Apolo, e que é Paulo, senão ministros pelos quais crestes, e isso conforme o que o Senhor concedeu a cada um?

EU PLANTEI, APOLO REGOU;MAS DEUS DEU O CRESCIMENTO. De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento."

Meu irmão, não me interprete mal, não é minha intenção, mas até lendo o Alcorão pessoas se convertem ao Cristianismo. Leia o livro "O Véu Rasgado" da Editora Vida, caso não creia... E leia "Walk On", o livro supra mencionado, e conheça um pouco mais sobre o U2.

P.S: Não sei o número certo, se mais ou menos que 100 mil pessoas, mas afirmar categoricamente que nunca viu ninguém se converter em um show do U2 signfica no mínimo que apenas no show do Morumbi você deve ter ficado na porta perguntando um a um se houve alguma transformação...

Um grande abraço, na paz de Cristo!

JC

bruno_marcel disse...

o Bono já falou pra banda DC Talk (evangelica) que o som deles era muito bom, e q eles deveriam falar de outras coisas, não só de Deus e religião!
U2 é uma banda de princípios, e que não tem nada contra o cristianismo, muito pelo contrário, como todo cristão, independente da religiao, cresce ovindo a palavra nas igrejas, ele apenas usou em suaw musicas coisas bonitas e de principios q ele conhece da bíblia.
isso nao faz da banda uma banda cristã!

várias bandas falam em fazer o bem, tem seus principios, um apostura digna, e nem por isso são cristas...as vezes são mais corretas e dignas q muitas bandas q se dizem cristas!

Anônimo disse...

A paz irmão.

Assista o clipe YAHWEH do deles e depois me diga se mudou de opinião.

Não sei se já foram cristãos, mas é fato que agora trabalham para o outro lado. Blasfemando contra o Altíssimo.

C.Trindade disse...

Mr. Anônimo, onde há blasfêmia no vídeo Yahweh ? Tá faltando é entendimento. Existe uma grande diferença entre uma banda com mensagens diretas evangelísticas e uma banda composta eventualmente por cristãos, que abordagam temas cristãos e usam de algumas oportunidades para dar testemunho de vida e de princípios. É o caso do U2. Interessante que ninguém questiona todas as outras profissões que são puramente seculares, mas apenas a música. Se pensarmos limitadamente como alguns, o advogado, o médico, o engenheiro e outros profissionais, sendo cristãos, deveriam fazer tudo visando exclusivamente o evangelismo. Existem músicos, profissionais desde cedo, que só fazem isto. Sendo eles cristãos, não são obrigados a cantar e tocar necessáriamente músicas evangelísticas ou de louvor.

C.Trindade disse...

Complementando... não há absolutamente NADA na bíblia que diga que um cristão não pode/deve fazer/tocar/ouvir músicas que não são cristãs. Alguém INVENTOU que música é um instrumento de expressão e comunicação que só pode ser usado para louvor/evangelismo. A bíblia fala SIM, de que TUDO o que fazemos deve ser para o louvor e glória do nosso Deus, e isto inclui QUALQUER atividade/trabalho, ou seja, nossa vida deve ser para o louvor a Deus. Como é possível ser um dentista para a glória de Deus ? sendo honesto, justo, educado, se comportando como um verdadeiro cristão. E um compositor/músico ? da mesma forma. Há porém aqueles que tem chamado para mínistério e esses podem fazer qualquer coisa exclusivamente para a obra de Deus. Aliás...infelizmente, entre estes, existem muitos que fazem mesmo é ganhar muuuito dinheiro vivendo nào como ministério, mas como um negócio milionário.

Anônimo disse...

Em toda a sua vida Jesus falou diretamente as pessoas. Não vai ser uma musica ou uma banda que mudar conceitos ou personalidades mas sim Cristo e sua palavra.
As pessoas que se manifestaram neste blog simplesmente acham o som do u2 bom e querem arrumar uma descupa para escutar.Deus é um Deus Criativo certo, porque então não começamos a buscar a criatividade de Deus para ajudar aqueles que cantam, dançam nas Igrejas.ou melhor porque nao começamos a fazer alguma coisa. Não acho que devemos falar de Deus indiretamente para entrar em algumas portas da sociedade. Ao inves disso acho que sacrificio de Cristo tem que ser falado de uma forma como nunca se fez antes olhem para a hillsong (musica evangelica n1 do mundo)adoração a Deus e a palavra Diretamente.
Pregue a palavra enquanto é tempo

Fabiano disse...

1) Ser cristao é declara-lo publicamente é um orgulho. Porque o u2 nao assume uma postura de discipulos de Cristo?
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê...“

2) Crer em Deus ou dizer que cre significa ser um verdadeiro cristao? "Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem..."

3) A mensagem do evangelho sempre foi clara e direta. Qualquer um, e nao somente o u2 em questao, que diz crer em Cristo mas nao o confessa como SENHOR E SALVADOR e nao vive uma vida de santidade é no mínimo incoerente...

Lamentável jovens cristaos cairem na onda do u2. "Eles sao crentes, as letras falam de Deus..." etc etc...

Mas tudo esta acontecendo para se cumprir as escrituras mesmo. Volta logo SENHOR JESUS, o teu povo esta sendo enganado, as sutilezas do inimigo tem enganado muitos cristaos...